Quantas vezes você já não ouviu aquela frase: “deus me livre namorar um cara com uma melhor amiga” ou “não quero passar nem perto de namorar mulher que usa maquiagem”? Essas duas são alguns exemplos de frases que te tornam, sim, uma pessoa egoísta.
— Mas Raiana, essas são só minhas preferências…
Shhh… pequeno gafanhoto, vou entrar em detalhes, se aquieta.
Não, ter preferências não te faz egoísta, o que te faz egoísta é o que você tá fazendo com essas preferências.
— “Como assim?”
Ter preferências é normal: a preferência é uma expectativa, quase como uma lista de coisas que, com muita reflexão, você entendeu que eram certas pra você:
“Meu namorado precisa:
Ser alto;
Fazer academia;
Saber cozinhar;
Não ter melhor amiga;
Me colocar como prioridade;
Hum… alto.”
Essa é uma lista totalmente razoável, com coisas que você gosta, que você se atrai, que você precisa numa relação; nem todas são úteis, mas somos humanas (autocrítica).
Certo, vamos contar uma historinha:
Você passa horas e horas pensando em como você quer seu homem (ou mulher) perfeito, lê livros de romance que apenas aumentam suas expectativas, faz a sua listinha, guarda-a e vai viver sua vida. Certo dia, você encontra um homem que, visualmente, é tudo que você deseja: ele é super alto — o que contribui bastante com seu (nosso) estereótipo de “ele consegue me carregar dois quilômetros comigo nos braços dele sem esforço” —, musculoso, bonito e… já citei alto?
Você, não sendo boba nem nada, vai até ele e vocês conversam muito, durante horas. Ele pede seu número e você, obviamente, dá, e vai embora, feliz porque a conversa foi incrível e, nesse meio tempo, você descobriu que ele sabe cozinhar a melhor macarronada que você vai provar na sua vida (palavras dele).
Mas tem um problema (sempre tem um problema), ele tem uma melhor amiga e, tipo, a sua lista estava quase completa... e se você perguntasse sobre ela?
| É exatamente isso que você faz quando chega em casa: “sobre essa sua amiga… vocês são próximos? :)”
Ele, duas horas depois, responde com um: “ela é minha amiga desde pequenos, gata, somos quase irmãos"… UGHHH!
— “Droga, e agora? O que eu faço?”
Quiz: O que ela faz nessa situação?
Opção A: Sai de fininho
Opção B: Pergunta pra ele se ele pensa em se afastar da “irmã” *emogi revirando os olhos*
Opção C: Diz “ah, tá tudo bem, eu sei como é!”
Opção D: “Eu prefiro não me relacionar com homens com relacionamentos tão próximos a outras mulheres, foi um prazer conhecer você”
Se você disse que essa mulher escolheu a opção D, você está…
EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEErrada!
Óbvio que ela, DE TODAS AS OPÇÕES, escolheu a C!
E advinha o que acontece depois que ela percebe que começou a namorar um homem com melhor amiga????
SIM, ela quer que ele se afaste da melhor amiga!!!!!
SENDO QUE FOI ELA QUE ESCOLHEU, SABENDO QUE ESSA MENINA EXISTIA, NAMORAR COM ELE, CONTINUAR A RELAÇÃO!
Gente, não tem nenhum problema, absolutamente nenhum problema, em querer namorar um homem que não tenha melhor amiga, mas namorar um homem sabendo que ele tem melhor amiga e depois pedir que ele corte laços com ela é, quase literalmente, a mesma coisa de escolher namorar um homem de cabelo castanho e depois querer que ele pinte o bebelo de loiro.
Se você quer alguém — mudando de exemplo, porque homem também tem dessa (muitas dessa, inclusive) — que não use maquiagem, ESCOLHA UMA MULHER QUE VOCÊ SABE QUE NÃO USA MAQUIAGEM! Por que bulhufas você escolheria namorar alguém com uma característica que você sabe que te incomoda? E depois ainda quer mudar a vida da pessoa, como se você fosse o centro dela.
Não, sua mulher não precisa parar de usar roupa curta só porque começou a namorar com você; sua mulher não precisa parar de ir em festas, sendo que você conheceu ela em uma; seu homem não precisa parar de ir no futebol toda quarta só porque você acha que ele vai te trair lá.
“É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz.”
— Jean Paul Sartre
Como Sartre afirma, somos condenados a sermos livres, a responsabilidade de ter escolhido alguém que não lhe satisfaz, é apenas sua. Não condene os outros pelas suas decisões mal feitas, quando tudo que tinhas de fazer era escolher uma entre algumas delas.
Não responsabilize sua parceira por não querer parar de usar uma roupa reveladora se, antes mesmo de namorarem, ela utilizava roupas assim; da mesma forma, não diga ao seu parceiro para escolher entre você e a melhor amiga dele, quando nem mesmo você escolheu seus princípios.
Pare de ser egoísta,
o seu parceiro não precisa se moldar aos seus conceitos, despir-se de sua personalidade e costumes, se você, sendo você, não se adequou aos seus. Se sua voz não está rouca, não há motivos para sussurrar; não diga meias palavras entre as linhas, se pode dizer o verbo completo. Comunique-se com seu parceiro/a antes de começar um relacionamento, caramba.
Se você quer casar, não namore com quem deseja passar longe do altar, e vice versa.
O pior: tem gente que não se aguenta e comete o mesmo erro duas vezes!
Aí você vê a pessoa terminando porque o homem tinha melhor amiga e não quis se afastar dela e depois de dois meses está com um homem que é ateu e odeia crianças (a mulher quer casar na igreja e ter 7 filhos).
Amiga, aí é de lascar, né? Me ajuda a te ajudar!
“Ninguém deve cometer a mesma tolice duas vezes. A possibilidade de escolha é muito grande.”
— Jean Paul Sartre
Obrigada, Sartrinho, obrigada, divo.
Há uma pessoa que se adequa a você sem que isso a leve a mutilar partes de si mesma para encaixar-se em sua vida.
Não se afunde em relações que você precisa mergulhar de joelhos.
Reflexões sobre a piranha que seu namorado possivelmente conversa, Sartre e discussão sobre a liberdade. É uma boa mescla. Ótimo texto, Rai!